Dia do repórter e nos deparamos com essa tragédia em Realengo, no Rio de Janeiro. Desde o início eu acompanhei o caso pelo rádio. Trânsito pesado na Rua Mena Barreto, em Botafogo, e a notícia veio como uma bomba. Um homem entrou em uma escola e atirou em vários alunos. No começo, o desencontro de informações é normal. O fato acabara de acontecer. A emissora tenta ligar pra autoridades e hospitais da região. Poucas informações.
Prato cheio pra especulação começar.
Até a chegada do repórter ao local do crime, a Escola Municipal Tasso da Silveira, a especulação corria solta. "Alguns alunos fugiram e estavam abrigados em uma igreja", alguém disse. Foram verificar e não tinha criança nenhuma. Notícias falsas mobilizam as pessoas. Por que isso não foi verificado antes de dar a notícia? Só para dá-la primeiro? Não é melhor ser o segundo a dar uma notícia correta do que ser o primeiro a dá-la errada?
Em nome da audiência o desencontro das informações gerava hipóteses.
"Ele matou três" diziam. "Matou as crianças e se suicidou" e também "trocou tiros com um policial e morreu. Nada confirmado naquele momento.
Fato triste e consumado, iniciou-se a tentativa de se traçar o perfil psicológico e religioso do atirador. Que balela! Ele foi taxado de ateu, muçulmano, terrorista, começaram a ouvir psicólogos e levantar traços da personalidade do indivíduo. Tudo descartável.
Após tudo estar desvendado chega a hora mais esperada pelos veículos: o sensacionalismo barato em nome da audiência. É um tal de ouvir depoimento de mãe chorando, parentes aflitos, familiares do assassino e até de crianças que estavam no interior da escola, um absurdo! Expor uma menina para que ela contasse a história nitidamente decorada e combinada antes de ir ao ar.
Essa exposição tem como intenção prender a audiência. Ninguém pensa nos familiares, na dor que deve ser ter que ouvir essas barbaridades toda a hora na TV.
O público quer isso mesmo?
Será que não prefere ter informação correta, apurada, de qualidade, que realmente sirva para alertar e corrigir erros que levam a esses fatos acontecerem?
Essa "Coisa" que cometeu a covardia de matar crianças e também se matar, que é mais um ato covarde, não era um ser humano, muito menos poderia ser comparado a um animal.
Em discurso durante uma cerimônia com micro empreendedores no Palácio do Planalto, a presidente Dilma chorou e homenageou as 12 crianças mortas com um minuto de silêncio.
A maior homenagem que poderia ser feita a elas hoje seria manter a TV desligada.
Palavra de Aló.